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Âncora 1

Terapia Social - versão 2020 
Versão Português e espanhol              
por Marcos de Noronha

Trata-se de um relato intimista da trajetória do autor e a teorização de sua prática em Terapia Social embasada no estudo da Etnopsiquiatria, fazendo no final uma analogia com uma disciplina pioneira em psicoterapia de grupo, o psicodrama.

Se os fatores sócio-culturais influenciam quadros psicopatológicos, como sugerem os distúrbios que ocorrem especificamente em determinadas culturas, como então poderiam ser utilizados para auxiliar no tratamento? Quais são as técnicas psicoterápicas que consideram os recursos sócio-culturais para recuperação de pacientes com distúrbios emocionais? Essa amplitude visaria, naturalmente, uma maior eficácia no tratamento dos quadros emocionais, que cresce, cada vez mais, em nossa sociedade moderna. Estudou vários modelos de tratamentos, dentre eles também as experiências de Henri Collomb, o precursor da Etnopsiquiatria, com vinte anos de trabalho na África, para entender como os curandeiros e as sociedades tradicionais, lidam com a doença mental.

Quais os instrumentos para entender o social? Qual a estratégia para trazer o conflito para o presente e desatar o nó traumático? Há relação entre fatos étnicos e doenças mentais? Em que tipo de sociedade eu teria mais chances de ser deprimido? O que é elementar no ser humano, independente da época ou etnia? Qual a função terapêutica da cultura? A importância dos Mitos para a sociedade. Que recursos culturais dispõem uma sociedade para prevenir situações previsíveis que geram ansiedade? Qual é o papel dos ritos? O que traz sentido a vida do homem? Qual o papel da cultura na formação de nossa personalidade? De que forma os ensinamentos antropológicos podem ser considerados no tratamento? Na prática diária, quais os critérios que determinam se uma psicoterapia será individual ou em grupo?

Você pode obter o livro impresso entrando em contato com a ABE ou o e-book, digital da seguinte forma:

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Ou comprar diretamente na Amazon: 

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  • em espanhol: ASIN : B074668TCF

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O Cérebro e as Emoções
Analogia entre rituais e psicoterapias
                    por Marcos de Noronha

Nesta obra realizamos um passeio, desde a histórica busca para entender as emoções, pelos mais célebres pensadores, até a concepção sobre o tema proporcionado pela Ciência Cognitiva atual. O autor envolve a emoção ao amplo processo de vida, interligando-a a percepção e o comportamento com intensão de trazer inspirações profissionais de saúde e a sociedade em geral. Critica o fato de não valorizarmos devidamente a importância dos sentimento e a emoção, para compreender as doenças psiquiátricas e de não utilizarmos este conhecimento para o tratamento e ensino. Mostra que vivemos ainda sob a influência das tendência do século passado onde a intelectualidade é ressaltada em detrimento dos aspectos afetivos, pois historicamente, foram os aspectos racionais que diferenciaram o homem dos outros animais. O autor extrai dos inúmeros exemplos das Terapias Sociais que realiza no sul do Brasil e de suas incursões em diversas culturas, os ensinamentos que servem para compreender a emoção na fisiologia que inclui o cérebro e o corpo, para a relação, neste processo do que concerne a mente, e a relação com o ambiente. Com esta base procura entender os dilemas atuais da sociedade que enfrenta polarizações sociais em tempo de conflito e de pandemia. A obra, sobretudo, é uma leitura otimista da vida e recorrendo às praticas ritualísticas das sociedades tradicionais e moderna, tenta extrair sua essência para uma analogia com as melhores psicoterapias, capazes de curar e prevenir da doença mental e com os métodos do melhores professores. Nos bastidores a emoção conta com sua base fisiológica e psicológica, todas elas envolvidas, numa via de mão dupla, com o contexto sociocultural. Por isso o foco buscando entender a base anatômica do funcionamento do cérebro e da função da cultura.

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A Leseira Itinerante: Como um psiquiatra desbravou a cultura manicomial no sul do Pará

 por Fabiana Nanô , Priscila Pesce 

Este livro conta a história de um psiquiatra que decidiu sair das amarras da Psiquiatria e construir uma rede aberta de assistência e de apoio em Saúde Mental em vários municípios do sul do Pará. Em seu trabalho, Geraldo utiliza técnicas como a Terapia Comunitária, que é realizada em locais abertos e visa integrar toda a comunidade.
Geraldo Sales trabalha com pessoas esquecidas, em uma região amazônica desconhecida para a maior parte dos brasileiros, porém com uma riqueza histórica, econômica e cultural imensurável.
Seu trabalho, iniciado na década de 90, ganhou prêmios e foi internacionalmente reconhecido, e agora sua história é narrada neste livro de escrita leve e emocionante. Fabiana Nanô, a autora, conta não apenas a história de Geraldo Sales, mas também a de dezenas de pacientes e profissionais que fizeram e fazem parte da desconstrução da cultura manicomial nessa região amazônica.

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Você pode adquirir este livro, e-book na Amazon:

https://www.amazon.com.br/Leseira-Itinerante-psiquiatra-desbravou-manicomial-ebook/dp/B07JQ8KZG1

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De janeiro a dezembro de 2021, o Movimento Saúde Mental (MSM) mobilizou parceiros e doadores, conseguindo distribuir 72 mil refeições para pessoas de comunidades do Grande Bom Jardim e indígenas de Maracanaú. Também foram entregues mais de 833 cestas básicas.

A ação solidária de emergência é direcionada a famílias em situação de pobreza extrema, neste período prolongado da pandemia da Covid-19, quando no Brasil cresce o desemprego e 19 milhões de pessoas passam fome, enquanto 55% das famílias vivem sob insegurança alimentar.

A condição de insegurança alimentar se dá quando a pessoa não tem acesso regular e permanente a alimentos.


 

O MUNDO HOLANDÊS

Contraste no comportamento das massas nas eleições de 2022 no Brasil

 

Marcos de Noronha - 28 de setembro de 2022

 


Nesta breve reflexão, assim como fiz em 2018, dou continuidade a uma análise do comportamento dos brasileiros diante das eleições presidenciais. Quando fui dar uma palestra  em Bauru, local próximo a Lins no interior de São Paulo, cidade onde eu nasci, o Brasil reagia as descobertas dos esquemas de corrupção noticiado pela mídia como o Mensalão e a Lava Jato.

Neste período um outside emergia se anunciando como candidato às eleições de 2018: Bolsonaro. Eu que nunca fiz parte de um partido político, mas sempre tive tendência a apoiar visões de centro-esquerda, fiquei perplexo diante dos fatos revelados, considerando tudo isto para decidir em quem iria votar. Considerei também a escolha da maioria da população, àquele candidato improvável, e o pior, de extrema direita. No blog da ABE publiquei Conexão Bauru em: https://www.abe.org.br/post/2018/10/02/conex%C3%A3o-bauru . Quem puder leia o artigo Conexão Bauru e compare com a reflexão atual do Mundo Holandês, porque eu tenho uma proposta de fazermos um debate, transmitido ao vivo, no Canal Terapia Social da quinta-feira.  Ambos títulos dos artigos se referem aos dois momentos distintos em que escrevi, embora para uma mesma causa. O primeiro em Bauru, quando fui dar uma palestra em 2018 e o outro na Holanda em 2022, quando fui participar do Congresso onde minha intervenção foi sobre o tema polarização, mas nas duas ocasiões decidia-se quem seria o presidente do Brasil. Nestes dois momentos a minha ambivalência transcorria entre os fatos e como eu gostaria que fosse a realidade.

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De volta a ditadura ou imunização cognitiva?

Foi a partir da leitura de um artigo de Reinaldo Azevedo que iniciei a minha reflexão. O mesmo jornalista que escreveu "País dos Petralhas” alertava que escolher o improvável Bolsonaro era voltar a uma ditadura do passado, pois estaríamos elegendo um provável Hitler. As previsões do jornalista não se concretizaram e também não foram suficientes para dissuadir a população da intenção de voto. Agora, voltando do Congresso Mundial de Psiquiatria Cultural em Roterdã, na Holanda, procuro reunir elementos para esta reflexão, pois durante meu workshop, ao mobilizar um grupo de participantes, com a ajuda do presidente da nossa Associação Mundial de Psiquiatria Cultural, o brilhante Roberto Lewis, escolhi "o Cérebro nas Polarizações”, um dos capítulos do meu livro “O Cérebro e as Emoções”. Neste workshop realcei a arrogância no comportamento do homem e tudo aquilo que nos impede de continuar um diálogo e nos incita a cancelar o outro, num mecanismo emocional que interfere na razão e nos distancia dos fatos.

 

Para aqueles que permaneceram aliados ao Partido dos Trabalhadores, mesmo diante das revelações por crimes de corrupção de seus maiores protagonistas, o esforço em 2022 ainda é relacionar os fatos à apenas narrativas criadas pelos adversários,  num golpe da direita para a tomada do poder. Não há provas, segundo os partidários da esquerda, da criminalidade do chefe da quadrilha, ou tentando inocentá-lo, "ele não sabia de nada". Em Roterdão fiz um sociodrama na sala, provocando os colegas, que vieram de diversas partes do planeta, a expressarem-se diante de situações diversas e definirem qual emoção prevalecia em cada caso. Na enquete eu apresentei 5 possibilidades: na primeira eu pedi aos participantes se colocarem, por exemplo, na posição de uma pessoa diante de um torcedor de um time de futebol adversário. O objetivo era identificarem, daquelas 5 situações, qual mexia mais com cada um deles. A segunda situação foi deles estarem diante de um indivíduo recorrendo a uma medida diferente, na Pandemia, como por exemplo em relação as vacinas ou ao uso de máscaras. Além destas, mais 3 situações acrescentei aos participantes, dando a possibilidade de escolherem apenas uma: na diversidade da escolha de um candidato a presidente numa eleição presidencial; na diversidade religiosa, seja ela qual for e finalmente, diante de um posicionamento pró Rússia ou pró Ucrânia, em pleno conflito entre estes dois países. Esta foi a situação mais escolhida, talvez pelo evento estar sendo realizado na Europa, próximo a área deste conflito, ou pela maioria dos participantes serem europeus e pelas repercussões econômicas experimentadas, principalmente naquele continente. Depois de escolherem a situação mobilizadora tiveram que escolher qual sentimento básico apresentavam , dentre eles, temor, alegria, surpresa, raiva e tristeza.

 

Na referida publicação acima, Conexão Bauru, pontuo sobre o que faria qualquer um de nós, nos tempos atuais, escolher um regime comunista, por exemplo (aqui relacionando as propostas do candidato Lula e sua relação com os movimentos de esquerda da América do Sul). Não temos na história nenhum bom exemplo que justifique esta possível escolha. Ou, quem, diante dos graves crimes de corrupção revelados, permaneceria inerte e mesmo assim votaria naquele candidato, que apenas visa o poder, em detrimento de toda a sociedade? No livro que recentemente publiquei analiso a incapacidade de alguns a deixarem seus candidatos preferidos, mesmo depois de conhecerem os fatos que os incriminaram. Relacionei esta rigidez em permanecerem com seus candidatos desmascarados a uma compensação emocional, uma espécie de apego que, em alguns casos, é a única referência de pertencimento que o eleitor possui. Parece mais um comportamento de um torcedor pelo seu time, do que alguém com saúde e liberdade para refletir e fazer uma escolha livre.  E nestes casos, conhecer a saúde emocional do protagonista é importante se entendermos a função da emoção. De outra forma, não conseguiríamos refletir sobre o distanciamento de algumas pessoas, do ponto de vista racional, dos fatos e suas reações improváveis diante deles. No meu livro, dentre os vários temas sobre as questões emocionais envolvendo a sociedade nas polarizações, um deles falo sobre a imunização cognitiva, onde nada do que não for aquilo que eu quero confirmar, entra na minha cabeça. Neste cenário de divergências, o diálogo esta flagrado a derrota, dando lugar a um embate de tentativas de convencer o outro a se converter às minhas ideias, pelas quais eu constantemente necessidade de confirmação. Evidentemente, estou convocando meus amigos e colegas para um debate no nosso canal, mas querendo acreditar na saúde de todos nós e na possibilidade de esforçarmos para debater pensamentos, mesmo que divergentes. Os aspectos prazerosos de uma boa discussão em busca de conhecimento, no caso dos imunizados cognitivamente são atropelados por sentimentos de desilusão, e as vezes de raiva, e os interlocutores distribuem o que tem de pior, para colherem também o que há de pior no outro. Talvez, neste momento a sociedade em geral e os trabalhadores de saúde mental em particular, tem um viés para refletir, que possa ajudar a superarmos essa armadilha que não poupou, e nem poupará ninguém nos próximos anos, onde os sentimentos provocados estão mais para destruir do que acrescentar à sociedade. O meio web parece ter reforçado estes sentimentos, pela maneira como nos relacionamos com este recurso, com os nosso interlocutores.

 

No referido congresso mundial, até a comissão científica, que bem me conhece, parecia demonstrar receios em aceitar minha proposta inicial para um tema polêmico no Congresso Mundial. Sugeriram que eu repetisse um tema apresentado em Nova York, mais clássico e que estava cotado para ser executado em Hong Kong, num congresso que teve que ser cancelado devido a pandemia. Neste tema, mais teórico e não provocativo, eu faria apenas uma analogia entre as práticas psicoterápicas e os rituais das sociedades tradicionais. Como o meu desejo era contextualizar esta reflexão ao momento atual, num mundo pós pandemia e polarizado, num workshop de 90 minutos, eu bem que poderia reconciliar minha proposta, sem desrespeitar a comissão, de mostrar as técnicas psicoterápicas e relacioná-las aos rituais das sociedades tradicionais, mas dentro da mobilização que os fatos sociais estão provocando em todos nós. Assim, todos os participantes, independente de suas origens, teriam uma mobilização afetiva para se avaliarem naquela dinâmica. Seria uma oportunidade de relacionarem os sentimentos que os fatos sociais lhe provocavam a uma provável distorção em suas ações, caso não tivessem a saúde necessária para atuarem como psicoterapeuta ou profissionais da saúde mental.  Foi acreditando na capacidade destes participantes, em particular e do ser humano de modo geral, que reforcei minha decisão de realizar no congresso uma sensibilização usando um tema tão delicado, no mundo polarizado em que vivemos. Procurei mostrar aos colegas, que para lidar com traumas ou situações onde as defesas do ego são acionadas, e que muitas vezes se torna um empecilho na evolução psicoterápica, as praticas que recorrem a catarse apresentam melhores resultados. Relacionei algumas delas e comparei com o que acontece, comumente, nos rituais das sociedades tradicionais.

 

Um Mundo Dicotomizado ou múltiplas possibilidades?

Ou você pensa como eu, ou você não está comigo. Não há possibilidade de você pensar de outro modo e ser algo possível de que eu possa me relacionar. Ou você é de direita ou de esquerda, ditador ou comunista, fascista ou ladrão, nagacionista ou democrata. Não faltam estigmas para que eu possa dar vazão aos meus sentimentos, tentando difamar, excluir ou cancelar os que pensam diferente de mim, que eu encaro como meus adversários. Esta dualidade de ser de um jeito ou de outro, é fomentado pelas narrativas neste mundo polarizado em plena guerra, com campanhas e tentativas de convencimento para benefícios próprio ou para suas instituições ideológicas. A desconfiança passa a ocupar um lugar de destaque nas nossas relações. Porem, quando as relações sociais podem funcionar de forma natural e respeitosa, assim como acontece em comunidades que ainda conservaram seus espaços para o relacionamento, para os encontros grupais, o que se observa não é uma dicotomia, mas uma oferta de pensamentos diversos, que podem agradar ou não, mas se os integrantes da referida comunidade possuem um mínimo de condição relacional, estarão presenciando algo diverso, e mesmo assim incapaz de provocar reações  agressivas e excludentes. Diversos sentimentos são provocados, como desilusão ou admiração, mas a escuta prevalece e o respeito é mantido. Apenas para exemplificar, um pai hábil, diante do seu filho morrendo de medo do bicho papão, pode com amor ajudá-lo a racionalizar e se confortar, ao invés de desdenhar e desrespeitar a criança. Numa situação onde o outro fala coisas que parecem absurdas (e nos sites, tanto de esquerda como de direita, você encontra diversas delas), as reações de muitos de nós foram desrespeitosas e patrocinadas, muitas vezes, por nossa arrogância ou nossa incapacidade de amar, colaborar, acrescentar algo que possa ajudar o outro a melhorar seus sentimentos e, quem sabe seu ponto de vista. Quando estamos diante do esforço do outro em nos convencer reagimos desconfiando de que o verdadeiro motivo de sua manifestação não esta simplesmente na apresentação de seu pensamento, mas na intenção de fazermo-nos pensar como ele para seu próprio conforto, quando não por uma intenção leviana de convencer-nos apenas por seus interesses pessoais. Quando o iminente ministro Barroso do TSE foi ao Congresso defender a validade das urnas eletrônicas, despertou suspeitas não o conteúdo de seus argumentos, mas o esforço em apresentá-los naquele momento e para aquelas pessoas.

 

Pelas características essenciais do Homo Sapiens, a relação com o outro e a proteção e o prazer que isso pode significar, supera os sentimentos que nos levariam  a buscar um isolamento, um comportamento tão comum nos dias de hoje. Como assim? Porque o isolamento aparece como um comportamento comum se este não faz parte de nossas tendências, pois, estas tem o sentido oposto, agregar pela proteção e o prazer. Estamos diante de uma doença social?  Portanto o isolamento é  um comportamento incompatível com nossa saúde, apresentando como um sintoma de um quadro psicológico, quando o paciente anuncia essa preferência. Podemos, neste caso, distinguir o isolamento da solitude, mas não cabe aqui esta reflexão agora. É na relação com o outro que encontramos prazer e proteção e a razão de viver, (e num trocadilho, embora o protagonista principal neste momento em nosso cérebro seja o sistema límbico, está na relação com o outro, e no afeto, a tal razão de se viver). Neste ambiente vem nossa motivação e sensações de prazer. Uma produção intelectual, como esta que estou fazendo agora,  não tem sentido se não for acolhida pela leitura dos outros, ou pela contribuição social que pretendo. Portando, está na relação o sentido da vida, e de manifestações , sejam elas intelectuais ou afetivas, que me conectam com meu entorno. Quando chego a este ponto, mostrando  aos leitores, como todos nós somos passiveis de cairmos na armadilha proporcionada pelas nossas emoções, não estou demonizando as emoções, mas alertando que nossa saúde individual, e a saúde social, depende desta dimensão,  exatamente a dimensão do que é o ser humano.  Nesta dimensão humana a sociedade garante os diversos olhares sobre a vida e as diversidades de soluções para os problemas. Em toda a trajetória do ser humano nunca foi tão reduzida as opções para esta ou aquela escolha, como está acontecendo agora.

 

Quando temos liberdade, mais um traço ligado ao homem e sua saúde, podemos discordar do outro; quando discordo não estou necessariamente num embate. Posso com respeito e sem deixar de amar, me posicionar com uma ideia ou pensamento diferente. Nos bastidores deste dialogo com o diferente, nossas emoções podem ser facilmente provocadas e isto pode também quebrar a harmonia do momento. Trabalhadores de saúde mental, com diversos recursos, através de psicoterapias ou utilizando recursos químicos de estabilização, lidam com aqueles que perderam os elementos que mantinham nossa estabilidade nestes momentos. Esta capacidade de manter a estabilidade varia de acordo com determinações biológicas, mas também podem ser estimuladas ou não, de acordo com nossa forma de viver e os nossos hábitos. Para melhor entender a dimensão desta questão e conciliar fatores predisponentes e a importância do entorno sendo utilizados como parte de uma técnica psicológica de compreensão e tratamento das doenças mentais, podemos refletir o que se passa numa Terapia Social, como aquela que realizo a partir de Florianópolis. A dinâmica das sessões favorecem os participantes a compreenderem como pode num ambiente de diversidade, ao invés de se defenderem do que é diferente, encarar as manifestações como oportunidades. Como trabalhamos na primeira pessoa, ou seja, as pessoas compartilham suas decisões pessoais nas sessões, ao invés de prescreverem algo a alguém ou tentarem convencer os outros, isto facilita uma escuta acolhedora. Claro que os participantes podem concordar e incorporar a experiência do outro, como rechaçá-la. Porém, compreendendo aqueles momentos, como uma multiplicidade de ofertas e o privilegio por estar diante delas, não justifica um distanciamento, mas sim uma escuta solidária ou uma busca de inspiração.

 

O filosofo inglês Bertrand Russel (1872-1970), nos alertou, de que o mundo está  e permanecera cada vez mais diversificado. Não há outro modo para todos nós, além da tolerância que devemos desenvolver, pois temos que aceitar o fato de que, cada vez mais, podemos encontrar pessoas dizendo coisas que podemos não gostar. E neste caso, eu posso antecipar qual seria minha reação? Será que estou preparado para este mundo atual? Qual conhecimento devo contar e de que forma este pode ser aplicado, para que minha exposição às diversidades deste mundo possa me fortalecer, ao invés de me adoecer? Como está hoje, 4 anos após ter escrito o Conexão Bauru, por exemplo, a intolerância em relação aos homossexuais tema que utilizei em 2018. Relatei que dos 193 membros da ONU, somente 71 países ainda consideram a homossexualidade um crime. Minhas buscas nas diversas publicações da web, não mostraram evolução do planeta neste item, por exemplo.

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Outsider no passado x a elite política.

Se em 2018 Bolsonaro era um outsider, hoje não podemos dizer o mesmo. De um partido inexpressivo, o PSL, do qual ele se filiou 6 meses antes da eleição, conseguiu um feio extraordinário que culminou com sua vitória. Depois se desfiliou da legenda e tentou criar um novo partido, a Aliança Brasil, cuja ação foi um fiasco. Sendo assim o presidente do país decidiu hoje se candidatar pelo Partido Liberal, para ter inclusive,  uma mobilidade nacional. Esta semana, seu adversário o ex-presidente Lula, ao passar em Florianópolis, usou a fragilidade partidária de Bolsonaro para atacá-lo e também se defender da conotação pejorativa associado a bandeira vermelha do PT. Lula realçou o fato dele ter um partido, enquanto que o Bolsonaro não tem. Disse que se trata de um comportamento dos fascistas, incorporar como símbolo a bandeira nacional e mostrou aos participantes, parte deles trazido por um grande número de ônibus para compensar sua impopularidade no sul do país, a desvantagem do adversário, praticamente sem partido. Claro que se trata de uma informação incongruente com a história, pois no passado, outros ditadores, nazistas, fascistas e comunistas utilizaram de símbolos bem conhecidos, para reforçarem suas campanhas, e ironicamente sempre por interesses de suas facções ou ideologias, em detrimento da sociedade.

 

A situação de campanha do então presidente e candidato Bolsonaro hoje é bem diversa daquela que o elegeu. Eu havia escrito que os eleitores de Bolsonaro, na maioria deles, escolhiam este candidato como forma de protesto. "Por todo lado onde passei, e pertencentes a toda classe social, encontro estes eleitores que dizem não querem ser mais enganados". Bolsonaro já demonstrava firmeza e parece falar a língua do povo e de forma franca e objetiva. Mesmo com um perfil nem um pouco conciliador, conseguia conquistar muitas pessoas, e anunciou no início, que só participaria para apenas um mandato, o que parecia justo naquele momento. Alguns eleitores demonstravam temor de, ao escolhe-lo, estar levando o país a um retrocesso e ao autoritarismo. O presidente, ao fazer escolhas técnicas para seu ministério, das quais algumas delas se arrependeu, por vezes com bravatas fez ameaças de intervir nas instituições, que para ele estavam contaminadas pelo esquerdismo. Enquanto isso, uma das instituições, o STF, agiu com represálias ao que analisou como conspirações e disseminação de noticias falsas. Ou seja, uma instituição, cuja incumbência é proteger a sociedade considerando a Constituição, encheu-se de poder e passou a investigar, julgar e condenar. Das “bravatas” do presidente às ações do Supremo,  uma delas acusa que o poder e autoritarismo continuava com as elites políticas, e delas faz parte também grupos do setor judiciário associados a estas elites. Estariam ligados aos corruptos e poderosos, muitos daqueles políticos e magistrados que ainda ocupam os cargos importantes, e fazem de tudo para desestabilizar o poder executivo, tentando atingir o presidente, na visão de muitos apoiadores de Bolsonaro. Se em 2018 o candidato navegava praticamente sozinho, como candidato de si mesmo e de seus filhos, e possuía uma base limitada de apoio, hoje pode se reeleger com um partido que conta com a maior bancada da Câmara dos Deputados. Bolsonaro, em relação as alianças e a forma com que estabeleceu, se defende que foi necessário este ato para ter governabilidade, mas acaba se igualando ao comportamento dos outros e das atitudes de seu adversário principal, que agiu da mesma forma, quando governava. Ou, pelo menos, se aproximando de uma atitude que criou o maior esquema de corrupção da história do nosso país, aquela com desvio ilegal do dinheiro público e esta, na decisão politica de aceitar o orçamento secreto, na legalidade, embora imoral, de deixar na mão dos políticos e sob sigilo, o destino do dinheiro público. Isto chamuscou a imagem do candidato Bolsonaro, e serviu de munição para campanha da esquerda, assim como também serviu as blindagens que o presidente faz, mas não por decreto como lhe acusou o candidato a presidente adversário, às investigações das “rachadinhas” de sua família. O orçamento secreto e a distribuição de cargos ao “centrão”, diz o presidente, faz parte de uma ação para haver governabilidade. O presidente candidato, nas suas declarações realça suas intenções positivas e preocupações em termos uma eleição limpa, cujo voto possa ser auditável e sua coragem em defender o país, sem se curvar a qualquer tipo de pressão (exceto ao do centrão).

 

Um outsider, pouco intelectual e detentor de uma carreira solitária na política, pouco conhecido nacionalmente, conquista a sociedade gradativamente por sua aparente franqueza e essa tal coragem. Foi ganhando possibilidades de ser eleito a medida que, pelas redes sociais, revelava ser a melhor opção do país para combater a corrupção, embora conta com grande margem de rejeição. Sua campanha não contava com uma exorbitância de dinheiro público, como a de seus adversários, mas sim com apenas uma pequena soma de recursos e a disposição voluntária de seus aliados. Isto foi totalmente diverso do comportamento da elite política do país, cujo seu maior adversário, Lula, hoje aliado de Geraldo Alckimin, ambos pertencentes a esta elite, nem sequer podiam imaginar ser possível numa campanha. Em 2018 Jair Bolsonaro não teve outra opção, mas agora, mais estruturado é bem diferente, não é um outsider com voluntários e descontentes levando sua campanha, pois teve tempo para mostrar, mesmo que no meio de um embate sem trégua, quais são suas propostas e condição de executá-las.

 

Em 2018, após ter sofrido um atentado em Juiz de Fora, acabou ficando longe também dos debates, o que, a meu ver, considerando seu discurso muitas vezes descuidado, as vezes autoritário e outras agressivo, pode ter lhe beneficiado. A própria conotação da tentativa de assassiná-lo ajudou aos indecisos decidir quem deveria ser o candidato escolhido, pois esclareceu para a população, de que lado ele estava na dicotomia entre o bem e o mal. Até mesmo, a escolha de temas conservadores, teve uma contribuição ao candidato , de estar conduzindo seu país a ordem. Neste mesmo sentido, a escolha de membros do exército brasileiro, afastando os fantasmas da opressão do período em que o regime militar se tornou ditatorial, reforçaram as boas intenções de Bolsonaro de recobrar a moral e a justiça. O resto da história todos sabem, quando o eleito presidente chamou o juiz Sérgio Moro, elevando-o a condição de ministro de seu governo. Na época o juiz já era considerado um herói nacional, pela forma moderna com que conduziu o julgamento dos criminosos, até sua descompatibilização com o governo e a perda da notoriedade ao sofrer represálias por suspeição, com a consequente anulação do julgamento a partir de Curitiba. Neste cenário a revelação da dimensão da cleptocracia que definia o Brasil fez com que o STF, parte também das suspeitas de pertencer ao esquema, caísse em desmoralização. Esta instituição fez de tudo para se blindar das investigações que foram solicitadas para provar o envolvimento de seus membros com a ilegalidade, no forte esquema de corrupção brasileiro. Hoje para a sociedade em geral, o STF aparece como órgão poderoso, censurando e punindo manifestações pelas redes sociais. Esta mesma instituição, no inconsciente popular, deixou no limbo explicações sobre o fato, com tanto esquema de corrupção revelado, com tanto dinheiro publico desviado envolvendo empresas e o poder público, como, até o momento, nada julgaram ser procedente? Como nenhuma punição foi determinada pelo STF? Incompetentes ou comprometidos com o esquema corrupto? Para alguns brasileiros, somente um saneamento da instituição poderia resolver o impasse. Para outros, mais radicais, só haveria uma solução, a tomada de poder e a dissolução de toda a estrutura democrática. Ainda temos pessoas que acreditam no restabelecimento gradativo da ordem e justiça, na atuação das nossas instituições e de forma democrática, na validade da alternância de poder, sob uma escolha popular demonstrada nas urnas, na importância da autonomia dos três poderes?

 

No artigo de 2018 eu trouxe algumas questões de como pessoas com ideologias tão parecidas poderiam escolher candidatos tão diferentes, por exemplo, numa eleição. Eu refleti bastante sobre esta questão e parte destas reflexões publiquei no livro O Cérebro e as Emoções. Na obra usei um conceito que tive contato através da web, “imunização cognitiva”. A definição diz que o termo se refere a "um escudo que permitiria as pessoas se agarrarem a valores e credos, numa atitude mais ligada a fé e misticismo, e distante do raciocínio lógico". Continuei a explicação mostrando que do ponto de vista psicológico trata-se de uma defesa do indivíduo visando sua preservação a tudo aquilo que possa interferir na forte identificação do protagonista com seu ídolo, ou valores, que foram incorporados de forma compensatória. "Abrir mão seria sua própria morte ou perda da razão existencial, razão de defenderem o indefensável."  O artigo que não revelava seu ator dividiu em fases o processo: "São elas: “Primeira fase: isolamento de quem tem opiniões contrárias, protegendo suas ideias. A pessoa vai eliminando de seu convívio ou mesmo de sua atenção, quem pensa diferente.” Quando ficou polarizado a discussão política no Brasil, ambos os lados, desta polarização, tiveram esta postura de isolamento. Isto se assemelha as pessoas em conflitos. Quando um mediador assume o caso, percebe que as partes envolvidas já não escutavam uns aos outros. “Segunda fase: redução da exposição às ideias contrárias. Passa a ler e ouvir apenas as opiniões em linha com seus credos. Nos estados totalitários, é quando a liberdade de expressão passa a ser ameaçada, quando a imprensa perde a liberdade, quando vozes dissidentes são caladas. É quando os processos educacionais adotam opiniões selecionadas, com autores e textos cuidadosamente escolhidos para seguir apenas uma visão de mundo. Terceira fase: Conexões dos credos a emoções poderosas. Se você não seguir aquelas ideias, algo de ruim vai acontecer. Lembra do “se você pecar, vai para o inferno? Se você não votar naquele candidato, sua vida, suas economias, seus benefícios estarão em perigo... Quarta fase: associação a grupos que trabalham para combater as ideias dos grupos contrários. Isso acontece não só em política, mas até mesmo na ciência, quando métodos de investigação científica focam nas fraquezas das teorias adversárias, ignorando os pontos fortes. Quinta fase: a repetição. Repetição, repetição, repetição. Cria-se um tema, um slogan que materializa um determinado credo ou visão, que passa a ser repetido como um mantra, numa técnica de aprendizado. O grito “não vai ter golpe”, por exemplo, não é uma criação espontânea, obra do acaso. É pensado, calculado. Sua repetição imuniza cognitivamente as pessoas contra os argumentos a favor do impeachment.” Ainda segundo o bom artigo virilizado nos meios de comunicação, nosso cérebro prioriza proteger  as nossas crenças, do que encarar a verdade. “ Esta análise, publicada em meu livro, mostra o que temos ainda na atualidade. As pessoas se dividiram em nichos e não querem saber do contraditório. Meu esforço nas redes sociais ainda é de participar de grupos opostos em posicionamentos e pensamentos em relação a política, pandemia e outras questões que sofreram a polarização.  Será que a geração atual é incapaz de sentar na mesa de um bar, ou na sala de uma residência e as pessoas colocarem suas opiniões discordantes e aquilo virar um debate? Eu sinto uma nostalgia deste velho tempo e lamento os ânimos exaltados atuais que impede hoje uma discussão sadia, ou que ao invés disto, leva ao distanciamento das pessoas.

Narrativas x Fatos

Lembrando as recomendações de Russel, o filósofo inglês, de atermos aos fatos, e não a confirmação daquilo que queremos acreditar, diante de tantas narrativas, com "provas científicas”, eu escolhi um viés para me conduzir, a despeito de minhas ideologias. Qual é a grande chaga no Brasil que deve ser combatida e neste processo, o que o país e a sociedade poderiam lucrar? Se tivermos uma gestão atendendo aos interesses sociais, ao invés dos corporativos visando o poder, poderemos ter divergências nas estratégias, mas o objetivo maior seria o desenvolvimento econômico e social. A minha referência neste cenário de disputa de narrativas foi aquilo que resulta em ação efetiva, no caso específico da corrupção sistêmica, às revelações dos crimes e a punição sobre todos os criminosos, independente de seus poderes, partidos ou cargos que ocuparam e ocupam.  A sociedade brasileira, como nunca antes em sua história, a partir das ações de Curitiba, com os métodos comandados pelo juiz Sérgio Mouro, e as ações orquestradas pela força tarefa do Ministério Público e Polícia Federal, criou uma sensação de que o Brasil decidiu pelo viés moral e da justiça. A operação Lava Jato, superou as anteriores, e embora atingiu de cheio o partido que estava no poder, foi se adaptando para ser suprapartidária em nome da justiça e da ordem no país. Os ventos sopravam contra as organizações criminosas, que mesmo com infiltrados no poder, em todas suas instâncias,  com o conhecimento dos fatos pela sociedade, já não poderiam dominá-la. Estávamos caminhando para sermos um daqueles países do norte da Europa, e não mais manter o modelo onde imperava a corrupção. A modernização da forma de funcionar o sistema judiciário, que parecia improvável de acontecer, onde o citado juiz reproduzia o aperfeiçoamento dos país que mais tiveram êxito sobre a corrupção, quebrou as blindagens de políticos e as empresas envolvidas nos crimes desta natureza. As quebras de sigilo bancário, descobrindo as vazões de dinheiro público, as delações premiadas e a prisão já na segunda instância criaram resultados, incomparáveis, contra o crime e a impunidade, que jamais havia sido visto no Brasil. Neste período eu me perguntava: quem se oporia a esta ação? Na sociedade brasileira renascia a esperança.

 

Corrupção não é somente sinônimo de desvio de dinheiro público aos corruptos, mas a falta de investimento na estrutura das cidades, por falta de recursos, estes desviados, , onde muitos morrem por acidente nas estradas e morte nos hospitais, também por falta de recursos. Até mesmo a falta de investimento na segurança e suas estratégias para melhorar as condições de vida dos brasileiros, que ainda sofrem, com alta taxa de homicídio e diversas consequências do crime envolvendo o tráfico de drogas são frutos de uma corrupção sistêmica. A Operação Lava Jato, portanto, parecia levar nosso país no sentido de dignificar nossa existência e mostrava caráter suprapartidário, quando passou a condenar criminosos de diversos partidos no país, mas ao mesmo tempo a operação teve que enfrentar uma campanha que culminou com sua morte. Neste mesmo período vimos reações de alguns setores para frear as ações conjuntas do Ministério Público e a Polícia Federal, que haviam conquistado um amplo apoio popular. Um destes grupos, aquele que começou reunindo advogados ligados a faculdade de direito da PUC e da USP, pelo WhatsApp, chamado Prerrogativas, parecia se opor às ações anticorrupção sustentada pela República de Curitiba. E em nenhum momento de suas manifestações sequer agiram com proposta para combater o mal comum da nossa sociedade, apenas vibravam com suas ações e a derrocada da Lava Jato.  Diziam que estas ações anticorrupção atropelava a constituição do país, mas por outro lado, nada indicavam como solução para o crime sistemático que sempre imperou neste mesmo país.  Desde, provavelmente 2014, quando o candidato Aécio Neves, também acusado, questionou os resultados das eleições, o advogado Marco Aurélio de Carvalho, inspirado a defender o resultado das urnas, coordenou um movimento entre seus pares que se opôs a Operação Lava Jato numa ação conjunta, tentando destruir tudo aquilo que sustentava o sucesso da ação contra o crime. Para terem resultado neste processo era preciso voltar atras às conquistas da sociedade brasileira, no meio jurídico, como a prisão na segunda instância e a delação premiada. Atrelaram suas ações como Defesa do Estado Democrático de Direito e da Constituição, como se estas duas instâncias, por si, poderiam representar justiça social. A quem serve leis ou sistema de investigação e punição que beneficiam corruptos? Quem são aqueles, que simplesmente no Brasil, se opuseram aos raros momentos de processo e julgamento mostrando ser possível haver justiça? Justiça, para ser chamada assim, deveria ou não discriminar aqueles a serem julgados, protegendo a elite que selecionou a própria constituição da corte?

 

O termo “presunção de inocência até tramitado e julgado” passou a ser o escudo consagrado dos corruptos em nosso país e os juristas que se dedicavam a combater este esquema, estudavam formas de quebrar as blindagens dos criminosos baseados na experiências de países que assim se procederam, enquanto que os prejudicados pelos crimes que cometeram fazia ao contrário. A frase, “o Brasil sempre funcionou assim, com um toma lá da cá e desvio por propina do dinheiro público. Porque agora e justamente quando o PT estava no poder, tem que acabar com isso?” Por isso a prisão após a condenação em segunda instância teve efeitos, como teve efeitos as delações que inicialmente começou a dizimar o crime organizado no Brasil. Foi neste período que, para deleite de toda a sociedade brasileira, o jogo da impunidade começou a mudar. Elevar a condição de herói os envolvidos nestas mudanças era mais que justa, pois se trata de uma luta contra um poder que não mede esforços para se defender. Está em jogo muitos recursos e a notoriedade de pessoas e instituições. Artigos contrariando a defesa da prisão em segunda instância passaram a ser constantes publicados, inicialmente frutos da vigília do grupo Prerrogativas; outros mostrando que não há provas dos crimes da maior personagem do sistema acusado de corrupção, o ex-presidente Lula, virou também um mantra de defesa dos grupos de esquerda; as tentativas de igualar os crimes do ex-presidiário Lula, ao então candidato Jair Bolsonaro em 2018 e em 2022, relacionando as “rachadinhas” de seu grupo e as diversas propriedades em nome de seus parentes e as compras efetuadas por eles com moeda corrente ou dinheiro vivo ainda persiste na mídia e nas redes sociais.

 

Neste embate diário a sociedade se perde e eu também me perco diante de qual a escolha certa. Afinal, qual é a essência desta discussão e o que queremos para nosso país? Há possibilidade de não ter havido uma gestão corrupta, de grande magnitude e envolvendo diversos partidos e setores de nosso país sob o comando do PT? Corrupção sem corruptores? Um ex-presidente que não sabia de nada? A imagem do Bolsonaro, mesmo que grotesco em suas ações, mas corajoso por não ceder a pressões, pelo menos muitas delas, aprendendo a governar, reparando erros de escolhas anteriores, o favorecem e me convence mais. Por outro lado, cedendo de forma lamentável a um orçamento secreto, mesmo na justificativa de uma composição com o centrão, me desestimula. Volto a ficar motivado quando o vejo diminuindo o lucro dos bancos, com a independência do Banco Central e a implantação do Pix, por exemplo. Sinto que estou no caminho certo, quando além dos espaços em que ouço críticas as ações do presidente atual, também ouço na fonte, por ele e seus pares, quais são suas ações para melhorar o país e os resultados que estão atingindo. Fico feliz de ver o nosso presidente sobrevivendo, em todos os sentidos, sem nova facada, numa ação de doação a pátria e o que deve representar sua dedicação ao Brasil. Vejo com bons olhos esta dedicação, mas não precisava ser tão excludente e se este candidato pudesse ter um perfil mais conciliatório, seria melhor. Eu como um psicoterapeuta e psiquiatra, atendendo as consequências de diversos conflitos comuns na nossa sociedade e continuo, em 2022, abrindo mão do meu posicionamento político, voltados a centro-esquerda, mas volto a declarar meu voto ao presidente atual, julgando suas intenções e pelo que representou ao país sua candidatura e sua vitória. Ao vê-lo eleito, me comportei durante todo este período, como me comportaria se tivesse sido eleito, não o meu candidato, mas o outro. Eu poderia sentir desilusão, mas, respeitando a escolha popular, da maioria, certamente contribuiria com o gestor escolhido. Ainda, a minha contribuição maior e com todo respeito, poderia ser criticar as ideias, algumas delas extremas, que julgo não serem boas para a sociedade, mas nunca deixar de contribuir com propostas para termos um país voltado mais para o social, sem esquecer que se desenvolvermos, teremos o que compartilhar, do que se mantermos na pobreza e injustiça. Uma sociedade mais solidária, pois aí está a razão de viver, onde não nos esconderemos mais em nichos de WhatsApp, com aqueles que pensam igual, pois reaprendemos a tolerar e conviver com a diversidade. Ao invés de me afastar dos que pensam diferentes, ou estigmatizar o outro com termos pejorativos de "petralhas" ou “bolsominhos”, irei preferir uma escuta receptiva, tentando tirar do outro sua contribuição, pois aprendi a reconhecer as intenções que o motiva.

 

Eu os convido para um bom debate pelo canal Terapia Social, que lança no Youtube todas as quintas-feiras novas e diversas matérias. Neste debate em forma de live a sugestão é falarmos na primeira pessoa, comentando, a partir destes dois artigos, o de 2018 e este de 2022, o que o tema lhes provocaram. Serão convidados a entrarem na sala pelo zoom e ao vivo, vamos acreditar na nossa capacidade de expormos nossas ideias, mesmo que divergentes, mantendo o respeito e exercitando uma escuta solidária. Vou estender o convite a partir das personagens de 2018, de Bauru e de Lins, mas são convidados todos vocês, que vem prestigiando este espaço do canal que reúne, de preferência, os aspectos socioculturais ligados a saúde mental.

Mundo Holandes
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